Liberdade de expre$$ão

sábado, 30 de março de 2013

Liberdade de expre$$ão


No facebook, leitores manifestam apoio ao blog e ao jornalista Luiz Carlos Azenha. Foto: Militância de Esquerda

Nesta sexta-feira, o jornalista Luiz Carlos Azenha anunciou o fim do blog Viomundo. Azenha despediu-se dos leitores através do Facebook e afirmou que o motivo de sua decisão é a pressão financeira que sofre com a série de processos movidos contra ele por Ali Kamel, diretor geral de jornalismo e esportes da Rede Globo. "Cheguei ao extremo de meu limite financeiro", disse o jornalista no post de despedida.

Azenha fez algo que a Rede Globo se cansou de fazer: deu sua opinião e escreveu seus editoriais afirmando aquilo que passava em sua cabeça, embasado por coisas que viu durante sua estadia na Vênus Platinada. Foi condenado em primeira instância a pagar R$ 30 mil a Kamel por uma "campanha difamatória" contra o diretor global. Porque ele apareceu em uma série de 28 posts sobre a cobertura eleitoral de 2006 feita pela Globo, da qual Azenha participou até pedir demissão um ano antes do fim de seu contrato que lhe garantia "salário de alto executivo" segundo o próprio. Cabe recurso da decisão da Justiça do Rio de Janeiro. "O objetivo da emissora, ainda que por vias tortas, é claro: intimidar e calar aqueles que são capazes de desvendar o que se passa nos bastidores dela, justamente por terem fontes e conhecimento das engrenagens globais", disse Azenha.

A liberdade de expressão no Brasil da Globo (*) é assim mesmo: custa caro. O crime cometido por Azenha foi dizer o que pensava do poderoso chefão do jornalismo global - e as opiniões de Azenha são compartilhadas por vários jornalistas e blogueiros deste país. No entanto, é crime discordar e identificar os interesses do jornalismo global. Devemos aceitá-lo como a realidade do país, a "única coisa que presta na Globo".

As manipulações empreendidas por Kamel no "Jornal Nacional" não são sua obra exclusiva. Ele simplesmente é o funcionário "mais realista que o rei", um "funcionário-patrão" que aproveita o controle que tem sobre o jornalismo da Globo para convencer-nos das posições de seus chefes. No caminho, acaba se perdendo e usa de uma truculência desmedida que acaba tornando explícitos estes interesses. Quando o dinheiro do dossiê petista ocupou quase todo o "Jornal Nacional" de 29 de setembro no mesmo momento em que a TV Bandeirantes já tinha iniciado há algum tempo o plantão sobre o desastre do avião da Gol, a mão de Kamel agindo em nome dos patrões ficou visível o suficiente mesmo para telespectadores mais desatentos. Não que a Globo não compartilhe das visões da Band, mas a Band simplesmente resolveu ser sutil ao seguir as posições da Globo.

No entanto, quando a contestação a este comportamento começa a aparecer na Internet, os veículos da grande mídia usam a arma da judicialização da censura para evitar que as vozes dissonantes da mídia alternativa continuem sua crítica. Não falta também a eles alguns lacaios na Internet a dizer que estas vozes são "compradas" por interesses políticos. Não é uma acusação que se faz na Europa, onde existem veículos ainda mais radicalmente contestadores do que os brasileiros. O Brasil, graças ao monopólio midiático, tem tido dificuldades de superar o macartismo.

O caso de Azenha é apenas mais um dos tatos casos de jornalistas vítimas de perseguição por parte daqueles que sempre se reúnem no Instituto Millenium para pregar a liberdade de expressão e a liberdade de imprensa. Ocorre que o Brasil é um país que não possui nem uma e nem outra. Há apenas a liberdade dos donos da mídia de perseguir quem quiser e quando quiser sem que esta conduta possa ser questionada por vozes dissonantes.

(*) Como se sabe, existem dois brasis: o Brasil real e o Brasil da Globo. O primeiro é o que necessita de banda larga rápida aproveitando as faixas de MHz da TV aberta em VHF. O segundo precisa da TV aberta em VHF para distribuir conteúdo. E de repente cria-se um impasse entre inclusão digital e negócios da Globo que até agora não se resolveu. É que às vezes o Brasil da Globo se impõe sobre o Brasil real...

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