2019

quinta-feira, 4 de abril de 2019

Só faltou eu para falar sobre a Reforma da Previdência




Fala pessoas!

Voltei para um tema específico, que, atinge a minha área de estudos (falo isso porque sou contabilista). Já que tem tanta gente que nem chega perto da área de atuação dando palpite, como diria o Kid Abelha, "por que não eu?"

Já vou falando de cara que essa é a minha opinião sobre o assunto, e não um estudo abalizado e aprofundado sobre o assunto, e mais, o meu objetivo aqui não é pormenorizar a Reforma da Previdência em si, e sim a propaganda que é feita em torno dela (sim, propaganda) como a única salvadora para a economia do Brasil. Portanto, caro leitor, NÃO TENHA O QUE EU VOU ESCREVER AQUI COMO VERDADE ABSOLUTA!!!!!!! É sério véi, se eu pegar um seguidor do nosso blog propagando o que eu falar aqui só porque eu falei, eu entro com processo, hein? Procurem outras opiniões, debatam! Me questionem nos comentários.

Eu sou sim extremamente a favor de uma Reforma na Previdência Social do Brasil, aliás, não só da Previdência, como também uma Reforma Tributária, Política e até mesmo de Licitações Públicas e na burocracia brasileira.

A Reforma da Previdência, do jeito que está, está errada. Ela está tirando benefícios de todos? Sim, até que está, no papel, mas, como diria o Telecurso 2000: "Vamos pensar um pouco". Se eu sou um cara com posses mobiliárias e imobiliárias, você acha que eu vou trabalhar até 70, 75, 80 anos? É claro que não (eu não), eu vou viver de renda até o fim da vida, consequentemente, eu paro de contribuir com o INSS, nem mesmo pagando a contribuição complementar, já que um plano de previdência privada até paga mais. E, se eu me aposentar com o mínimo permitido, eu garanto 60% da média salarial da minha vida profissional.

Calculando:

Suponha que eu tenha ganhado, durante os 20 anos necessários, R$ 5.000,00/mês, a vida toda (sindicato de merda!). Quanto eu contribuí e quanto eu posso pegar no final, e o melhor, em quanto tempo eu recupero tudo o que eu paguei para a Previdência Social durante minha vida profissional?

5000 x 20 anos x 12 meses x 11% = R$ 132.000,00

Mas, não sou só eu quem paga, meu patrão paga, 20% do total da folha de pagamento por mês, se ele não foi optante do Simples (esse é o cálculo mais simples possível). Considerando apenas o meu salário:

5000 x 20 anos x 12 meses x 20% = R$ 240.000,00

Ou seja, durante toda a minha vida profissional, a Previdência arrecadou R$ 372.000,00 sobre o meu salario. Um pouco foi eu quem pagou e a maior parte foi o meu patrão, supondo que eu esteja numa área que meu patrão não precise pagar o RAT e eu não tenha sofrido nenhum acidente de trabalho ou ficado doente durante os 20 anos de trabalho.

Beleza! Aí, ao me aposentar, eu pego 60% da minha MÉDIA SALARIAL (não da minha contribuição), mais 2% por cada ano excedente aos 20 anos necessários para a aposentadoria, como eu só contribuí por 20 anos, 60%, e como a minha média salarial é de R$ 5.000,00:

5000 x 60% = R$ 3.000,00/mês (fora o IRRF, que seria de 7,5%, ou seja, R$ 225,00)

Agora, calculando:

132000 / 3000 = 44 meses

Ou seja, em 44 meses (3 anos e 8 meses), eu recupero tudo o que eu contribuí com o INSS (se o IR não existisse).

372000 / 3000 = 124 meses

Ou seja, a Previdência me paga absolutamente tudo o que arrecadou com o meu salário em 124 meses, ou seja, em 10 anos e 4 meses. Desconsiderei o IR porque, o fato de eu não receber os R$ 3.000,00 não quer dizer que a Previdência não pagou os R$ 3.000,00. O dinheiro que sai do cofre da Previdência é R$ 3.000,00, os destinos é que são diferentes.

Se eu tiver trabalhado até os 65 anos (idade mínima proposta para o homem) o governo deveria torcer para eu morrer antes dos 70 anos, já que, a previdência iria me pagar tudo o que arrecadou com o meu salário quando eu completar 76 anos de idade.

Se, com os mesmos tempos ditos acima, a minha média salarial fosse de R$ 1.000,00, eu recuperaria tudo em 32 meses (2 anos e 8 meses), só que com uma aposentadoria de R$ 600,00, já que a proposta impõe um teto, mas não um valor mínimo para a aposentadoria. E a Previdência iria me pagar tudo o que arrecadou com o meu salário em 116 meses, ou seja, 9 anos e 8 meses, ou seja quando eu completar 75 anos de idade (1 ano a menos do que o cara que ganhava R$ 5.000,00 por mês).
Se quiserem, peçam nos comentários que eu detalho o cálculo.

Só que vem a pergunta: quem tem mais chances de chegar lá, segundo as estatísticas, o cara que ganhava R$ 5.000,00 aos 76 anos ou o que ganhava R$ 1.000,00 aos 75 anos?

Deu pra entender? Essa reforma não só não ameniza muito a discrepância entre os mais e menos afortunados, como, também, não cobre o rombo na Previdência, já que, como diria Dilma Rousseff, "o brasileiro tá vivendo demais".

Agora, chega de falar de matemática e vamos falar de marketing.

A maioria dos economistas e outros profissionais que não são da área, mas, dão pitaco, como jornalistas, "cientistas" políticos (as aspas são para alguns específicos, e não a área em geral), advogados e até publicitários e contabilistas (tipo eu), estão tratando a Reforma da Previdência como se fosse um super herói da Marvel (aí eu já não estou no meio). Como se a única salvação para a economia do Brasil fosse a aprovação dessa reforma e que o "Reforma da Previdência" seria criado para combater os super vilões da economia: o "Desigualdade" e o "Privilégios".

Eu acho isso um tratamento absurdamente leviano com relação à economia brasileira. Mesmo sendo à favor de uma Reforma da Previdência, meus estudos sobre filosofia (poucos, mas, esclarecedores) me ensinaram que nunca se deve defender uma causa, por mais justa que seja, com argumentos mentirosos ou falaciosos, pois, quando a verdade é descoberta, ninguém acredita mais na sua causa.

De fato, defender a Reforma da Previdência como o Santo Graal da economia e política do Brasil, é, no mínimo, falacioso. De fato, atrai investimentos estrangeiros e, consequentemente, pode levar num aumento do emprego, depois de muito esforço, mas, a economia brasileira possui vários outros empecilhos que, só com a Reforma da Previdência em si, não garantem o 1 real = 1 dólar.

E isso é o que vejo muitos pregando por aí afora. Uma dessas, que inclusive foi o estopim para eu escrever esse post, foi a jornalista especializada em economia, Thais Heredia, no Jornal da Cultura do dia 01/04/2019. Até mesmo ao responder a pergunta de um telespectador ela passou a impressão de que, não tem outro jeito. É a Reforma e ponto (tá certo que a pergunta do telespectador foi meio besta). Thais, se você, por um acaso ler esse post, eu não questiono seu conhecimento, só acho que precisamos pensar em algo mais.

E não é só ela, ela foi o nome que eu consegui lembrar, qualquer especialista entrevistado por telejornais diz a mesma coisa.

Então, eu faço um desafio a vocês, economistas que acreditam (ou dizem acreditar) nisso: relacionem a Reforma da Previdência com esses outros problemas que assolam a nossa economia, digam o que ela vai fazer para reverter as seguintes situações:


  • Spread Bancário elevado;
  • Desemprego - a curto prazo;
  • Falta de oferta de crédito ou da confiança dos que oferecem crédito;
  • Excesso de burocracia para abrir empresas no Brasil;
  • Excesso de burocracia para pagar e declarar impostos no Brasil;
  • Falta de mão-de-obra qualificada, mesmo com esse desemprego enorme;
  • Sonegação fiscal elevada, não só das grandes empresas, até a padaria perto da sua casa sonega imposto como se fosse uma prática comum;
  • E, o mais importante, insistência do Brasil em ser um mero exportador de commodities, sem busca por desenvolvimento tecnológico, sem busca por produzir a própria demanda além de produção de acordos internacionais que desvalorizam a produção nacional cada vez mais.

Isso porque eu não estou citando a péssima ideia que a maioria dos empresários brasileiros têm sobre o que é administrar uma empresa, acarretando na quebra das mesmas em pouco tempo.

Se vocês conseguirem apontar uma relação entre a aprovação da Reforma da Previdência e cada um dos problemas econômicos apontados, eu reconheço que a Reforma da Previdência será a única solução.

Agora, se você, leitor, me permite, vou fazer uma comparação idiota, mas, que, no fundo, até que faz sentido:

A-ham

Se a Reforma da Previdência continuar sendo propagada desse jeito, no Brasil, ela será o Brexit brasileiro. Escrevam o que eu digo (se bem que eu já estou fazendo isso, né?).

quinta-feira, 3 de janeiro de 2019

Damares e Exú


Resultado de imagem para damares

A evangélica Damares Alves, ministra da Mulher, Família e Direitos Humanos (fico constrangido só de me imaginar a explicar a existência deste cargo para um estrangeiro) jamais acreditaria fazer algo que não fosse a obra de Cristo. Mas sua última atitude definitivamente não foi de Deus...

Sim, a primeira polêmica do governo Bolsonaro se relaciona muito mais com uma figura que os evangélicos insistem em associar ao mal. E isso não é uma sacadinha para dizer que Jesus se importava com o perdão, enquanto o governo Bolsonaro quer matar bandido. Tem a ver com o fato de que Exú é o padroeiro da mídia - e por consequência, deste governo.

Em artigo que, infelizmente, não está mais disponível na Internet (mas está no cache do Google), Pai Rodney afirmou que Exú, se pudesse se apresentar, o faria assim:

“Disseram que eu era o diabo. Mario Cravo esclareceu: Não sou diabo nem santo, sou Exu! Muito prazer! Não ligue para o que dizem a meu respeito, tudo mentira! Quem pode me definir se sou a própria contradição? Nem bom nem ruim, nem quente nem frio, nem sombra nem luz! Mas não se engane, não sou meio-termo. Sou tudo e não sou nada! Ousadia é meu nome. Estou sempre pronto, pra luta ou pra farra. Experimentei o melhor da vida, e gostei! Se me disserem que é impossível, vou e faço. Se me pedir, eu dou. Se me agradecer, eu retribuo. Se me der, eu aceito. Se me negar, eu tomo. Aos meus, ensinei a rir da própria sorte, a ter esperança, a acreditar pra ver. Se a vida vai mal, sambo e esqueço. Se vai bem, sambo e festejo! Já te disse meu nome? Sou Exu! Muito prazer!”

Mais adiante, Rodney explica a função do orixá:

"Senhor dos caminhos e das encruzilhadas, mensageiro dos orixás, Exu é o dono da rua. Vale lembrar que a encruzilhada tem uma importância simbólica universal, representando o centro e o lugar de passagem entre os mundos dos homens e dos deuses. É a morada de Exu, que tem justamente a tarefa de ligar o sagrado ao profano, sendo o orixá da comunicação e o princípio dinâmico que rege a existência.

"No local em que duas ruas se cruzam, Exu recebe suas oferendas, atende e leva os pedidos dos homens aos orixás. Ele que abre os caminhos, por isso é o primeiro a ser cultuado e sem sua permissão nada acontece. As festas de rua, com muita gente, muita bebida e muita alegria, são suas preferidas. E a tradição dos terreiros de Candomblé recomenda que nenhum fiel brinque o carnaval sem prestar homenagens e reverências a Exu".

Exú não é necessariamente mau, mas é bem sacana quando quer. E sendo o truqueiro da cultura Iorubá, Exú é o grande comunicador. O padroeiro da mídia.

O papel de Exú remete ao de Hermes na mitologia grega. Foi ele quem, segundo conta Heródoto, inventou a lira a partir do casco de uma tartaruga por ele escapelada. Ao contrário da flauta de Pan, usada apenas para a arte, a lira é usada por Hermes para contar a história do mundo. Uma mídia.

De posse dela, Hermes, faminto de carne, decide roubar o gado de Apolo, deus da guerra, mais temido dos filhos de Zeus.

"Hermes, apesar de recém-nascido, conseguiu levar cinquenta animais de uma vez e conduziu-os por um caminho arenoso, porém, com uma inimaginável capacidade para não ser rastreado: o divino menino inverteu a posição de cada casco dos animais, de frente para trás, fazendo qualquer um pensar que o rebanho havia caminhado na direção oposta. Ele, ao contrário, manteve suas sandálias na direção correta e partiu com os cinquenta animais..

"(...) Assim, o deus conduziu o rebanho até o rio Alfeios, onde o alimentou e decidiu aprender a arte do fogo".

(Texto do Mitologia Grega Br)

Quando Apolo descobriu tudo e foi tirar satisfação com Hermes, este oferece sua lira em troca do rebanho inteiro. Encantado pelo som, Apolo aceita o acordo. Em vez de aniquilar o truqueiro (truque em grego é techné, raiz etimológica de técnica e tecnologia), Apolo se deixa encantar pelo show.

Comunicação é isso, ilusão e esquecimento. A 30 quadros por segundo, como disse Jean-Luc Godard. Iludido o público, abre-se o caminho para se exercer o poder.

Se alguém duvida que Exú é o padroeiro da mídia, basta um olhar mais atento sobre as últimas encruzilhadas midiáticas. Quando o "Cidade Alerta" passa horas procurando uma adolescente desaparecida, lá está Exú. Quando William Bonner lê editorial em defesa da atividade jornalística, é ele quem está lá também. Quando sua tia compartilha notícia falsa no WhatsApp, Exú até se identifica. Quando Silvio Santos assedia uma mulher ao vivo, adivinha, lá está Exú. E quando o cachorrinho morto no Carrefour de Osasco vai parar no céu em charge que viralizou no Facebook, não é porque Jesus o colocou lá...

O que nos leva de volta ao governo do fim do mundo e sua ministra. A primeira semana da era da fanfic foi de jornalistas maltratados na posse, ministério do Trabalho em vias de extinção, demarcação de terras indígenas a serviço do agronegócio (provavelmente para desmatar a Amazônia e vender soja aos chineses, pois o Brasil faz limpeza étnica com objetivos econômicos idiotas) e salário mínimo reajustado abaixo da inflação. Há ainda denúncias de invasão de gabinetes de deputados de oposição e a explicação estapafúrdia, a lá PC Farias, do tal do Queiroz sobre a movimentação atípica em sua conta.

Pois as últimas 24 horas foram de discussões rasteiras sobre o que é cor de menino e menina. Até marcas fizeram posts com o mote azul/rosa no Twitter. É uma discussão necessária, mas chama a atenção que, no meio do caos, a lira da evangélica Damares ainda nos encanta na encruzilhada midiática.

Em sua posse, Damares disse que "o estado é laico, mas esta ministra é terrivelmente cristã". Em algum lugar na encruzilhada, Exú sorri.