Crise

quinta-feira, 12 de março de 2015

Crise


O blog fez dois anos no último dia 11 e ninguém aqui lembrou. Nem eu, que fiquei ocupado demais cuidando de outras coisas - entre as quais um grupo de WhatsApp - para lembrar que não se esquecem aniversários nem no Facebook. Será que este blog está passando por uma crise de representatividade?

Se for, não será o único. Os blogs estão indo mal. A repercussão está diminuindo, a audiência é sempre baixa e as redes sociais já satisfazem nossa necessidade de expressão. Escrevendo em meu Facebook sobre o fim da TV, um assunto que me interessa, obtive mais interações do que em dois anos de UM POUCO DO NOSSO. No mais, como observou Pedro Doria n'O Globo, "para fazer grandes audiências, hoje, blogs precisam curvar-se ao que é viral nas redes sociais. Viral é tudo aquilo de fácil assimilação. É o sensacional. É o que causa impacto. É a emoção rápida: pode ser indignação, pode ser um riso. Mas é inevitavelmente raso".

A crise atingiu a blogosfera? Com certeza, o que não significa que ela seja a nova imprensa escrita. Os blogs vão continuar vivos, mas serão muito mais irrelevantes do que eram há dois ou três anos. E é por isso que, cada vez mais, blogs como o Esporte Fino, o Entenda os Homens e este que você está lendo assumem cara de portal. São portais com conteúdo de blog. Talvez um pouco de BuzzFeed...

Crise nos blogs e crise no impresso ao mesmo tempo. A crise nunca foi tão citada e alimentada quanto nos dias de hoje, não surpreende estar em dois veículos tão distintos até mesmo em idade. A crise no impresso fecha redações, a crise nos blogs condena ao abandono inúmeros endereços de web, a crise na publicidade ameaça rádios e TVs. É uma crise geral no jornalismo que ocorre no meio de uma crise econômica, tanto na Europa quanto no Brasil da crise da Petrobrás e da crise de representatividade da política. Há ainda uma crise de sonegação mundial via HSBC e uma crise no Oriente Médio da ISIS, sem contar na menos importante crise do futebol brasileiro. Até os âncoras entraram em crise - primeiro Brian Williams, depois Bill O'Reilly e agora já temos indícios de que César Tralli foi condecorado injustamente no caso Suzane Von Richtofen.

A crise mostra suas garras hoje (13), quando teremos as manifestações "em defesa do Brasil e da Petrobrás" convocadas por setores do PT e da CUT - que, dizem por aí, vai aproveitar pra botar na mesa a questão dos direitos trabalhistas. Dois dias depois tem a tão falada manifestação pelo impeachment de Dilma, convocada por movimentos "contra a corrupção".

Enquanto petistas e tucanos, enrustidos ou não, brigam pra provar que foi o outro quem começou a radicalização, o Brasil vai dando passos confusos, ora na direção progressista, ora na direção neoliberal. Enquanto já tem ministro defendendo a "revisão" da valorização do salário mínimo, tem ministro indo atrás de pequenos agricultores para discutir formas de melhorar a produtividade. Os passos confusos do governo brasileiro não dão espaço para a economia crescer. Nem para a inflação baixar.

A crise política afeta toda a América Latina, em especial Argentina e Venezuela, mas também o México - único governado pela direita. No Brasil, a radicalização ganha contornos humorísticos, como os blogueiros progressistas sendo acusados de "golpistas" e até de "machistas" por criticarem a austeridade do governo Dilma II. Equivale aos direitistas alucinados acusando a Globo de "comunista" e "petista".

Mas o que mais chama a atenção é o anacronismo do PT em atribuir os protestos ao "golpismo" das "elites" que querem "derrubar um governo democraticamente eleito" com o apoio de uma "classe média reacionária". O PT parece não ter entendido o recado, não do "panelaço" em si, mas de sua repercussão e aceitação pela classe média.

O PT não entendeu a crise, nem o PSDB, embora esse último saiba muito bem como se aproveitar dela em prol de seus interesses. O que estamos assistindo no Brasil é uma crise de representatividade: o povo não se reconhece na política mais. Antes a crise se restringia ao Congresso, agora chega ao poder executivo atingindo presidentes e governadores - Beto Richa (PSDB) enfrentou protestos recentemente no Paraná. Uma crise dessas pode desaguar num caos político e social nunca dantes navegado. E um golpe pode ser o mínimo a que poderemos chegar.

Enquanto o Brasil enfrenta a radicalização de uma crise, a Europa tenta sair de outra. Depois do Banco Central Europeu intervir por meio da compra de títulos, a Syriza venceu as eleições gregas e governa com o apoio de um partido de direita. Até agora, o ainda novo primeiro-ministro grego Aléxis Tsípras não conseguiu acabar com a austeridade, mas já obteve importantes vitórias junto à troika - como é conhecido o comitê formado pelo BCE, o FMI e a Comissão Europeia que negocia o resgate financeiro à Grécia.

Três quartos dos gregos querem tanto o fim da austeridade quanto a permanência da Grécia na Zona do Euro, ainda que as duas coisas possam ser incompatíveis. A Grécia administra a crise como pode. E a saída grega pode determinar o futuro da Europa, já que a crise da dívida grega é grave e afeta o velho continente como um todo. Além disso, há a possibilidade de reviravolta parecida ocorrer na Espanha, através de uma possível vitória do Podemos.

A incerteza paira em todo o planeta. Recentemente, a conceituada publicação The New Republic foi vítima de um passaralho após um desentendimento entre jornalistas e novos donos. Mais um capítulo de uma crise que fez a Time Warner se livrar da revista Time, cuja editora foi separada do conglomerado e agora vende ações na bolsa separadamente. Coisa parecida fez Rupert Murdoch ao dividir seu conglomerado em dois: um para TV e cinema e outro para os jornais.

A crise da Time e da New Republic também deu as caras por aqui. A Editora Abril, outrora símbolo de um imponente império midiático, coleciona hoje demissões e fechamentos de títulos. Os rumores são cada vez mais fortes: vão fechar a Playboy?  A Info vai sobreviver como revista digital? Até que ponto será possível manter o Grupo Abril como segundo maior grupo de mídia do Brasil, atrás apenas da Globo? A Globo, como rede de TV aberta, também não estaria com os dias contados?

Uma realidade nova imposta por um paradigma novo que tentamos enxergar com o mesmo olhar do paradigma velho. É assim na política, na economia, na mídia, nos blogs. No chinês, a palavra "crise" é composta por dois caracteres: um significa "perigo" e o outro "oportunidade". Será que, no meio desta enorme mudança de paradigma nós não poderíamos enxergar as crises sob a ótica da oportunidade?

O UM POUCO DO NOSSO, por exemplo, quer superar a crise dos blogs com criatividade e novidades para 2015. Quem mais estará disposto a  tentar?

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