agosto 2018

quinta-feira, 9 de agosto de 2018

Do hospício e da casa de repouso - o debate da Band


Ainda não decidi meu voto no primeiro turno da eleição presidencial mais insana da Nova República. O horário eleitoral ainda não começou, um candidato está com situação indefinida e o primeiro debate foi realizado nesta quinta (9) na Rede Bandeirantes - em horário outrora destinado a um reality show com Eric Jacquin.

A impressão que fica após o evento de ares tragicômicos é que estamos condenado a uma decisão entre a loucura e velhice. No primeiro time, jogam os populistas - conservadores como Daciolo e Bolsonaro, progressistas como Boulos -; no segundo, o pessoal que defende as mesmas ideias e propõe basicamente as mesmas coisas de sempre - neoliberalismo, desenvolvimentismo, "terceira via" -, com a diferença de que não vai funcionar.

Na Piauí, Marcos Nobre observou que a proposta do Centrão é a única na mesa neste momento. Se os outros candidatos não apresentarem nada de útil, é ela que será aplicada. E o debate da Band deixou evidente que a maioria anda batendo cabeça, para desespero de quem sonha com um Brasil mais justo, ético e democrático.

A seguir, as impressões do debate

Álvaro Dias: seria o botox? Ou algum analgésico, como parte do Twitter sugeriu durante o debate? O ex-governador do Paraná deixou como única impressão no debate a dificuldade na fala. Sua insistência em afirmar que tornará Sérgio Moro ministro da Justiça é até risível. A seu favor, conta a previsão do vidente Carlinhos de que será eleito.

Cabo Daciolo: tomou de Bolsonaro o lugar do tio do zap. Sugeriu uma conspiração mundial para implantar o comunismo na América Latina que deixou Ciro Gomes boquiaberto, para dizer o mínimo. Se perder (e é bem provável que isto acontecerá), tem vaga garantida como painelista de programas de auditório.

Ciro Gomes: há dois candidatos que são reconhecidamente preparados para assumir a presidência (quer dizer, contando os presos são três): Alckmin e Ciro. O primogênito dos Ferreira Gomes passou os últimos 8 anos se preparando para a eventual candidatura e, uma vez candidato, marcou por falar insistentemente do SPC como se estivesse a fazer propaganda da Crefisa. Boa notícia: não disse nada de muito comprometedor (ainda).

Deus: no fim do debate, quase todos os candidatos o agradeceram (Daciolo até pegou a Bíblia). Alguém deveria consultar São Pedro para saber quem Ele apoia.

Geraldo Alckmin: chuchu é um apelido injusto para Alckmin, pois até o chuchu pega gosto de algo quando junto da comida. Sua disposição em apoiar brutalidade policial ("quem não reagiu está vivo") tornaria dispensável uma candidatura como a de Bolsonaro, mas nem o ódio ganharia cor com seu jeito Pin-da-mon-han-ga-ba. Haja centrão pra ajudá-lo a se tornar presidente!

Guilherme Boulos: é ate engraçado ver parte da esquerda se referindo à inteligência e eloquência do autoproclamado líder do MTST enquanto ele fala groselha atrás de groselha, especialmente no que diz respeito a economia. Ao que parece, entendeu que vai perder e partiu pro ataque. Melhor assim.

Henrique Meirelles: o ministro da Fazenda não tem nada a seu favor. Faz parte de um governo impopular, seu partido viu o centrão descambar para o lado de Alckmin, não tem carisma e, quando fala, parece estar prestes a suspirar de dor. A teoria de que sua candidatura só existe para ajudar o centrão faz muito sentido.

Jair Bolsonaro: seu momento mais significativo foi nas considerações finais; Não porque estava melhor, mas porque sua postura resumiu o debate que fez. Todos achavam que ele iria fervendo aos estúdios do Morumbi, como fez nas entrevistas do Roda Viva e da Globo News. Mas ali ele estava em terreno conhecido, graças ao treinamento que obteve em programas de auditório. No meio dos políticos profissionais, se perdeu. Viu a loucura, sua única carta, lhe ser usurpada por Daciolo. Só conseguiu "mitar" contra Boulos. No meio das considerações finais, deu pra percebê-lo mais pianinho, talvez pensando onde ele foi se meter.

Lula/Haddad/whatever: Chico Barney disse no Twitter que a relação entre Gleisi Hoffmann e Lula era meio Rajneeshpuram ("Wild Wild Country", na Netflix). De fato, o PT parece estar isolado da sociedade num mundo em que apenas o grande líder leva à salvação. Com seu candidato preso e com o vice impossibilitado de representá-lo pelas regras do debate, Haddad se viu obrigado a realizar um evento tão paralelo quanto o mundo em que seu partido vive desde o impeachment da Dilma. Com a impugnação de Lula, o ex-prefeito deve ser autorizado a participar de debates, mas até aí morreu o Neves.

Marina Silva: quem lembrar de algum grande momento dela no debate ganha um perfume da Natura. Valendo!

***
O próximo debate é na RedeTV, dia 17. Muita coisa pode mudar até lá, menos minha indecisão com relação a quem votar, que seguirá até descobrir um candidato são com um projeto de país que eu possa defender. Por enquanto, só vejo loucos e velhinhos. E um presidiário.